A importância da conscientização de usuários como controle estratégico em Segurança da Informação

Este artigo foi desenvolvido por Eduardo Oliveira, que faz parte do time de profissionais e atua como PS Leader na Cipher, trazendo uma visão prática e estratégica sobre um dos pilares mais negligenciados — e ao mesmo tempo mais críticos — da segurança da informação: a conscientização de usuários. Com base em frameworks internacionais, normas de compliance e experiências reais de campo, o autor explora como transformar o fator humano em uma poderosa camada de defesa contra ameaças cibernéticas.
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De nada adianta ter trancas e cadeados, cerca elétrica e alarmes, quando alguém de dentro da casa abre a porta para um criminoso, não é mesmo? É tão necessário conscientizar usuários, quanto ensinar as crianças a não falar com estranhos, por exemplo.
Na maioria dos incidentes de segurança analisados nos últimos anos, a origem do comprometimento não foi uma falha tecnológica, mas sim um comportamento humano suscetível à exploração. Campanhas de phishing, engenharia social e vazamento de credenciais continuam sendo vetores predominantes em cenários de ataque — o que evidencia a necessidade de tratar o usuário como parte integrante da superfície de proteção.
Neste contexto, programas de conscientização em segurança da informação devem ser tratados como controles técnicos e operacionais críticos, com planejamento, execução contínua e indicadores de desempenho, conforme norteado por diversos frameworks de segurança reconhecidos internacionalmente.
A conscientização como camada de defesa
Ferramentas de EDR, firewalls NGFW, DLP e CASB são eficientes, mas ineficazes diante de um usuário que ignora alertas, compartilha senhas ou executa arquivos maliciosos. A conscientização, quando bem estruturada, atua como uma camada de prevenção comportamental, anterior ao acionamento de qualquer controle automatizado.
Segundo o framework NIST SP 800-53 Rev. 5, o controle AT-2 (Awareness Training) orienta organizações a fornecer treinamento de conscientização adaptado ao cargo, ao risco e ao nível de privilégio dos usuários, como parte essencial da proteção organizacional.
Falhas comuns na implementação
Empresas frequentemente falham ao implementar ações de conscientização por motivos como:
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Baixa frequência: ações pontuais (ex: apenas no "Mês da Segurança") não promovem retenção do aprendizado.
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Conteúdo genérico: quando não possui ligação com os riscos específicos da organização.
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Falta de métricas: ausência de indicadores impede validação da efetividade.
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Treinamentos descontextualizados: linguagem e formato não aderentes ao perfil dos usuários.
A ISO/IEC 27001:2022, em seu Anexo A, controle A.6.3 (Conscientização, educação e treinamento de segurança da informação), destaca que a capacitação contínua é mandatória para garantir que os colaboradores compreendam suas responsabilidades relacionadas à segurança.
Boas práticas para programas técnicos de conscientização
Para que a conscientização funcione como parte do sistema de defesa da empresa, recomenda-se:
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Simulações periódicas de phishing, com análises comportamentais por setor e cargo.
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Conteúdo adaptado por área de negócio, reforçando riscos reais que afetam cada perfil (ex: financeiro, jurídico, operações).
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Integração com incidentes reais: sempre que possível, transformar ocorrências internas (sem exposição de pessoas) em estudos de caso.
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Automação e trilhas contínuas: uso de plataformas LMS ou similares para manter o aprendizado ativo e distribuído.
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Feedback imediato e educativo: cada interação deve reforçar a mensagem, sem punições improdutivas.
O CIS Controls v8 reforça essas práticas no controle 14 - Security Awareness and Skills Training, recomendando treinamentos contínuos, simulações práticas e avaliações de progresso para mitigação do risco humano.
Conclusão
A conscientização de usuários, quando tratada como controle técnico e não como formalidade, oferece retorno mensurável na redução do risco organizacional. Ao capacitar os usuários com conhecimento objetivo, prático e recorrente, aumentamos a resiliência da empresa frente às ameaças que inevitavelmente continuarão a surgir, muitas delas explorando quem está fora do escopo dos controles tradicionais: o ser humano. Organizações maduras em segurança não apenas documentam a conscientização, mas a integram como parte essencial do seu modelo de defesa em profundidade.
Autor: Eduardo Oliveira, PS Leader na Cipher